terça-feira, 31 de maio de 2011

Aula Introdutória de Economia Política


Aula Introdutória ao Estudo da Economia Política
Prof: José Amado

Antes de tudo, uma advertência. No estudo de qualquer ciência social, a análise histórica impõe-se como uma condição essencial. Alerta-se, outrossim, que nas ciências sociais, muito mais que nas ciências naturais, sempre há que se considerar, não ser ela isenta de juizo de valor, ou seja, há sempre interesses incrustados em suas assertivas: o interesse da classe dominante.

A Economia Política ocupa-se de uma parte da realidade social, especificamente daquela que diz respeito as relações sociais voltadas ao atendimento das necessidades materiais do homem. Ela busca entender a razão do homem, em sua evolução histórica, haver criado instituições como: propriedade privada, dinheiro, mercado, salário, lucro etc, tão presentes na vida social, como algo permanente, natural e invariável na sua conformação.

Nascia a Economia Política na segunda metade do século XVII, expressando o ideário da burguesia “no período que esta classe estava na vanguarda das lutas sociais” e a nova ciência dava a sustentação ideológica de que necessitava o movimento revolucionário para sobrepor a ordem feudal, garantido seu avanço e sua consolidação como a nova classe dominante. Havia, por assim dizer, uma relação de cooperação entre a burguesia e a cultura ilustrada, fundamentada numa proposta de libertação humana focada nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. A revolução burguesa, de fato, liberta o homem da dependência senhorial, relação prevalecente no regime anterior. Agora todos são iguais perante a lei. Evidencia-se uma libertação política, que não garante a libertação econômica-social.

Impõe que se destaque que a crise do feudalismo remonta a meados do século XIII, pressionado pela baixa produtividade da terra, surgimento das cidades e de uma insipiente atividade mercantil, começa a alterar a relação de produção feudal. A relação entre os servos e senhores que antes desenvolvidas sem a intermediação monetária, já agora, em muitos casos, exigia que os pagamentos fossem feitos em dinheiro. As cidades passam a apresentar uma demanda crescente por bens e serviços, que a estrutura de produção feudal era incapaz de atender. Toda essa pressão sobre o regime feudal forçou a classe senhorial a se organizar buscando a criação de um Estado mais forte. Surge o Estado absolutista legitima representante do senhoril. O poder político não era mais repartido entre a nobreza, concentrava-se na mão de um rei.

A manutenção do Estado absolutista e a opulência da nobreza impunham um custo que precisava ser financiado e esse recursos foram buscado justamente na classe à qual ele deveria reprimir: os emergentes comerciantes, mercadores, banqueiros; a nova burguesia, que passa a ter um significativa influência junto a classe dominante. Ressalva-se: influência econômica, porque o poder político continua na mão da nobreza. Quando unida a força econômica da nova burguesia e a insatisfação da classe camponesa e com a participação aglutinadora de intelectuais, a chamada cultura ilustrada, se instala uma nova ordem política e econômica.

Estamos no segunda metade do século XVII, quando já se consolidava a revolução burguesa e a nova ciência; a Economia Política dar a nova ordem econômica a sustentação ideológica necessária para sobrepor definitivamente a ordem feudal, garantindo consolidação e estabelecendo a burguesia como classe dominante que, no poder, revela seu lado conservador, promovendo uma ruptura com o ideário revolucionário e com o pensamento ilustrado que lhe dera sustentação. As classes populares que apoiara a burguesia na articulação revolucionária e na derrocada do antigo regime, é agora objeto de dominação e, anova ordem, é adequada aos interesses burgueses. Cria-se assim, as condições de revanchismo, agora não mais contra a nobreza, mas contra a classe trabalhadora e novo segmento proletário, que cumina com a revolução de 1848-revolução proletária.

A Economia Política que fundamenta a sua teoria no valor trabalho e que com esse fundamento combatera, com o apoio da burguesia, o regime feudal e o parasitismo da nobreza e que tem sua analise economia-social “a partir da produção dos bens materiais e não na sua distribuição”, não mais atendia ao pensamento conservador burguês e passa a ser combatida como sendo uma proposta de análise social extra-cientifica e uma nova Economia, esta, sem a adjetivação de politica vem a substituí-la.
Esta nova Economia se desenvolve como uma ciência independente, sem a preocupação com o processo histórico e com o método de pesquisa social. A nova Economia ajusta-se aos interesses da ordem social burguesa, exacerba-se no uso de modelos matemáticos e despreocupa-se em oferecer os instrumentos para necessária compreensão da vida social, postura oposta ao da Economia Política Clássica. Karl Marx chamava os defensores dessa nova Economia de economistas vulgares. Destaca-se como defensores dessa nova Economia Williom S. Jevons (1835-1882), Carl Mengen (1840-1921), Léon Walras (1834-1910), como observa-se, intelectuais respeitados.

A nova ciência desenvolve-se abandonando o princípio do valor trabalho e assume o princípio do valor utilidade marginal, que já tivemos a oportunidade de tratarmos em sala de aula. A partir de uma postura critica a essa Economia, destaca-se que ela defende como necessário a ordem social os princípios da propriedade privada, do salário, do lucro, do capital. A economia que sera objeto de nosso estudo é a Economia Política que se lastreia na princípio do valor trabalho e que desenvolve sua análise a partir de uma perspectiva história da formação social.

Chama-se atenção, que as discussões que se seguirão ao longo do curso, fundamenta-se na critica marxista ao modelo capitalista de produção que, convém que se destaque, não é uma unanimidade, muito pelo contrário, é uma linha de pensamento e de análise que tem sido objeto de grandes discussões e profundas discordâncias, mas que pode oferecer ao estudante um instrumental importante para a análise social.

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