quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Considerações Sobre o Processo Inflacionário Brasileiro


CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO INFLACIONÁRIO BRASILEIRO.
(Estudos: anos 50 a 80)
Prof: José Amado

Os anos 50 da economia nacional são marcados por um esforço no sentido da industrialização do país. Na política prevalecia o populismo de Getúlio Vargas, prática política que se estende até 1964 com o golpe militar. O esforço de industrialização situava-se no contexto da Política de Substituição de Importações – PSI, que se caracterizava pela proteção a indústria nascente nacional a partir de uma política cambial e aduaneira restritivas as importações de bens com produção similar no país, mas ao mesmo tempo em que facilitasse a importação de bens de capital (máquinas e equipamento) e matérias primas, tinha assim uma política cambial dualista que penalizava o segmento agrícola que recebia menos por suas exportações e beneficiava a indústria que pagava menos por sua importações. Essa política foi denominada de “confisco cambial”.

As taxas de inflação registrada nesse período, com exceção do ano de 1957, foram de dois dígitos, alcançando seu máximo em 1957 quando registra 39,5%. A inflação dos anos 50 tem origem no déficit público, financiado com a emissão de moeda, sendo caracterizada como uma inflação de demanda e justificada como necessária para suportar o processo de industrialização que vivia o país à época, que exigia grandes investimentos em infra-estrutura básica.

Os anos 60 foram conturbados do ponto de vista político. Na economia o país vive “a primeira grande crise de econômica em sua fase industrial” a inflação alcança 91,9% em 1964, alguns apontam como causa do desajuste a política econômica do governo anterior de Juscelino Kubitschek. Esta etapa de nossa vida econômica culmina com o golpe militar de 64.

O primeiro governo militar do General Castelo Branco procurou meios técnicos para proceder a um ajustamento na economia com o lançamento do Pleno de Ação Econômica do Governo – Paeg. Foram idealizados do Plano os economistas Roberto Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões. O Plano promoveu uma política de choque de combate à inflação através da redução de crédito e aperto monetário, reduzir drasticamente o déficit público e promoveu uma reforma tributária, estabeleceu uma política salarial rígida controlando os sindicatos o que conduziu a uma queda no salário real dos trabalhadores. Entendendo que a inflação e um mal necessário a um país em desenvolvimento estabeleceu a correção monetária como uma forma de amenizar seus efeitos, reduzindo ao um índice inflacionário de 91,9% em 1964 para 20% em 1969.

Os anos 70, mais precisamente de 1967 a 1973, o Brasil viveu um período especial de sua vida econômica, que ficou conhecido como “período do milagre econômico”. O país crescia a taxas superiores a 9% ao ano e a inflação vacilava entre as taxas de 25% a 15% ao ano. Esse crescimento extraordinário da economia nacional é creditado ao ajustamento econômico ocorrido no governo de Castelo Branco e à capacidade ociosa da indústria nacional. Isso permitiu a retomada dos investimentos públicos, aumentou o nível de emprego, a indústria da construção civil cresce favorecida pelo Sistema Financeiro da Habitação e pela retomada dos investimentos públicos, a taxas de 15% ao ano, a indústria de bens duráveis beneficiada pela ampliação do crédito ao consumidor cresce também a taxas significativas, foi efetivamente um momento especial vivido pela economia brasileira.

Essa euforia de crescimento recebe seu primeiro golpe com a primeira crise do petróleo em 1972, que afetou evidentemente na apenas o Brasil, mas todo o mundo. Isso é destacado em nossa tabela da taxas inflacionárias, quando a inflação passa de 15,5% para 110,2% em 1980. Ao longo desse período ocorreu à segunda crise do petróleo em 1979, nosso balanço de pagamento devido às altas contas para pagamento do óleo impostado, mas também das importações de bens de capital e insumos que tinham seus preços cada vez mais altos no mercado internacional, devido exatamente o aumento nos preços do petróleo.

Todos esses problemas, motivados por fatores externos, impuseram ao Brasil um reajustamento em sua política de desenvolvimento, consubstanciado no segundo Plano Nacional de Desenvolvimento que define um novo modelo de política industrial direcionado à substituição de importações, gerando excedente para exportações. Esse redirecionamento era um esforço e manter a economia crescendo a taxas significativas, mas baseado no financiamento externo, pois havia dinheiro abundante no mercado internacional. Nesse período a inflação continuou crescendo.

O Brasil entra nos anos 80 com uma elevada dívida externa e quase toda ela baseada em juros flutuantes e os juros no mercado financeiro internacional começa a disparar e o país vive a chamada crise da divida externa, caracterizada pela necessidade de obter recursos para rolar a divida externa, situação que é agravada com a quebra da economia mexicana que, praticamente, afastou dos países em desenvolvimento o fluxo de recursos do chamado mercado especulativo. Neste momento o país não teve outra saída a não ser se recorrer do Fundo Monetário Nacional e aí parou de crescer devido às exigências imposta pelo FMI.

Era este o cenário que o país entra nos anos oitentas (década perdida). Às medidas impostas pelo FMI faz inicialmente arrefecer o galopante crescimento da inflação, mas apenas por dois anos, nos anos que se segue ela volta com todo o ímpeto. Entretanto, em termos externo o país se ajusta e passa a ter superávit em seu balanço comercial que contribui para o acerto das contas externas e conseguir novos recursos para financiar seu crescimento que em 1984 alcança 5,3%. Só não consegue debelar a inflação que alcança nesse ano os 223,8%.

O Brasil volta a sua normalidade constitucional em 1985, mas tendo que passar por mais um trauma que foi a morte de Tancredo Neves - presidente eleito, assumindo seu vice José Sarney. Como não podia ser diferente, a prioridade do novo governo foi o combate à inflação.

Com Sarney assume o Ministério da Francisco Dornelles (sobrinho de Tancredo Neves). Dornelles era favorável a uma política ortodoxa de combate a inflação, entretanto seu colega de ministério, Ministro do Planejamento João Sayade defende o chamado choques heterodoxos por interpretar como causa da inflação brasileira sua indexação (inflação inercial) e sua posição era apoiada pelos economistas, Pérsio Arida, Lara Resende e Francisco Lopes. Nessa disputa prevaleceu o entendimento de João Sayade e o afastamento de Ministro da Fazenda Dornelles, assumindo Dílson Funaro que é favorável ao choque heterodoxo e em fevereiro de 1986 é lançado o Plano Cruzado.

O Plano, em seu primeiro ano traz a inflação de 235% ao ano para 65%.







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